quinta-feira, janeiro 06, 2011

Um fim de tarde de inverno.

A rua estava deserta, todos pareciam respeitar aquele momento de tristeza. A estrada estreita se tornou larga para o inexistente fluxo de carros. Sem trânsito, sem engarrafamento... Deste jeito, era mais fácil chegar. De repente, um freio, rodas parando de girar, a porta é aberta e, por fim eu desço, olhando todo aquele ambiente sombrio. Não foi difícil reconhecer. Sim, eu estava em casa. O evento já havia começado. Silenciosamente aproximei-me, não queria ser notada.

Uma duvida surgi. Eu não sabia o motivo da morte. Cheguei para o coveiro e discretamente perguntei-lhe: “Qual a causa da morte?” Atordoado com a minha pergunta ele responde: Tristeza. E sem querer soltou algo que não irei esquecer: “Jamais vi alguém morrer desse jeito. Quando o corpo foi aberto o coração estava partido, os vasos rompidos, só de ver sentia-se uma expressão de dor. Como pode alguém morrer daquele jeito? ”. Sem dizer palavra alguma, fiz um sinal com a cabeça e me afastei.

Voltei para onde se encontrava o corpo, de longe observada. Havia poucas pessoas e, a cada instante uma porção delas saia. Minutos depois, todos se foram, só eu estava lá. Então, com passos curtos fui me aproximando. A brisa suave fez uma folha cair, e tal, estrondou como a queda de um avião. Continuei a andar, cheguei perto, maldita sensação de desespero. O que era aquilo em minha frente
? Fiquei sufocada e, de forma materializada vi minha alma. Tudo aberto, nem sequer as moscas ousavam pousar. A cada passo que eu dava, podia enxergar um pedaço de coração partido. Eu via a dor.

A chuva começou a cair. Era um fim de tarde de inverno. A maquiagem começou a borrar, lágrimas presas latejavam como uma ferida aberta. De repente, alguém me segura pelo braço. O motorista com um guarda-chuva na mão, dizendo que estava tarde e que a viagem seria longa. Pela ultima vez olhei a dor que estava a minha frente. Andei. Entrei no carro. Encostei minha cabeça no vidro e, pude ver as cenas fúnebres em minha mente. Nada mais pulsava em mim. Com os olhos embaçados, mediante aquele caminho triste eu tive algumas certezas:
_ Primeiro: Que não tinha mais alma.
_ Segundo: Nada existia dentro de mim.
_ E por ultimo: Só o meu corpo andara pelos becos escuros de um fim de tarde de inverno.

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