São cinco horas da tarde e já está tudo pronto, você disse que viria as seis, estou contando os segundos. Chegue logo. Meus olhos só observam aquele grande relógio na parede, o tempo está passando... Levanto-me, vou ver se tem alguma coisa errada. Nenhum pó na estante, tudo no lugar, a comida ainda está quente, tudo tão perfeito, tudo tão limpo, tão lindo. O relógio toca, são seis horas. Nem acredito, o tempo passou tão rápido, que alegria! Emoções à flor da pele. Como eu pude me esquecer? Calma, calma. Pronto, tudo pronto, já coloquei um sorriso no rosto. Mais uma vez sento-me, só me resta esperar agora... Fico sonhando, fazendo planos, cada detalhe foi preparado com tanto cuidado.
O telefone toca, corro para atender, só pode ser você.
-Alô? _ Sinto informar, não posso ir até ai. _ - Por quê? Faz tanto tempo que eu espero por esse momento, porque você não vem? _ Porque não! Quem lhe fez acreditar que eu iria? Eu não confirmei nada, pare de ser tola! Eu tenho mais o que fazer, só queria te fazer ter esperanças. Até mais! _
Fiquei com o telefone no ouvido, só poderia ser mentira, ele não estava falando sério. Não mesmo.
Paralisei. Lágrimas. Choque. Dor. Mágoa. Desespero. Raiva. Ira. Ódio!
Bati o telefone com força, o joguei para longe, olhei para linda e perfeita mesa, derrubei tudo, joguei a comida fora, cuspi e gritei, gritei alto. Olhei para minhas vestes, rasquei tudo. Quebrei os porta-retratos, destruí os quadros, queimei as tolhas, acabei com tudo. Peguei uma faca, sentei no chão, ela estava posicionada nos meus pulsos, passei lentamente e senti a dor, ela era tão boa, fazia parte de mim. Sujei tudo. Absolutamente tudo. Fiquei parada, lembrei do porão, corri para lá, abri a porte, mandei tudo sair. Todos os meus temores e males, abracei-os, pedi desculpa.
“Como eu pude largar vocês, como eu pude acreditar nas palavras dele?
Vocês sim estão comigo, sempre que eu preciso. Perdoem-me”.
Vocês sim estão comigo, sempre que eu preciso. Perdoem-me”.
Havia sangue por toda a parte. Estava me sentindo viva. Então vocês vieram, estancaram o meu sangue e voltaram para dentro de mim. Deitei no chão, vi tudo destruindo, resolvi então ficar ali, esperando o tempo passar, esperando a morte chegar, esperando o coração por vez parar...
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